Golfistas sem campo

O histórico encontro no restaurante Shin Tokiwa foi a consequência de uma série de fatores que envolviam a prática do golfe pela comunidade japonesa naqueles anos da década de 60. O primeiro aspecto importante era o fato de os nipo-brasileiros não terem nenhum campo de golfe que fosse de propriedade deles ou que, pelo menos, tivessem uma influência e uma liberdade de decisão que permitisse implementar e valorizar sua cultura e seus hábitos.

Eles eram, basicamente, orientais praticando golfe em campos de ocidentais. Não se tratava, porém, de uma necessidade de se isolar dentro do país que os acolheram, mas apenas de poder manter hábitos tradicionais e poder fortalecer os laços entre todos os membros da comunidade nipônica por meio da prática do golfe. Até aquele momento, a única iniciativa em terras brasileiras de um campo voltado para a comunidade nipo-brasileira tinha sido a do Tapeçarinha Golf Club, no bairro de Piraporinha, no município de São Bernardo do Campo, em São Paulo, que durou de 1930 a 1941.

Vista do tee do 5 e green do 2

Vista do tee do 5 e green do 2

Com o fechamento do Tapeçarinha, os golfistas oriundos da Terra do Sol Nascente foram se espalhando por vários campos. Alguns se associaram a um dos mais tradicionais do país, o São Paulo Golf Club; outros foram jogar no São Francisco Golf Club, e alguns preferiram o campo de São Fernando em Cotia. Com o passar dos anos, tornou-se evidente a necessidade de um novo campo destinado prioritariamente à comunidade. Isao Ono, no mesmo período de sua reunião com os amigos no restaurante Shin Tokiwa, também era capitão do São Francisco Golf Club, e descrevia desse modo a situação: “O São Francisco era o clube que tinha o maior número de nipo-brasileiros, e podíamos jogar quantas vezes desejássemos, mas a verdade é que sentíamos diariamente que o clube não era realmente nosso. Nem aquele e nem nenhum outro clube que frequentávamos”.

Junto a uma inadequação de origem histórica e que revelava o choque cultural cuja primeira versão se deu com o desembarque do Kasato Maru no Porto de Santos, havia o desejo de se inscrever na então Associação Brasileira de Golfe um campo nipo-brasileiro, para conduzirem mais a contento suas políticas de crescimento e de divulgação do esporte. Foram essas as motivações que animaram os onze idealizadores naquela noite de 1963, para tudo desembocar na compra de uma área no ano seguinte, na cidade de Arujá.