Origens do golfe

Antes do Arujá Golf Clube surgir para fazer parte da colossal confraria golfística que se espalha por 35 mil campos ao redor do planeta e reúne dezenas de milhões de aficionados, esse esporte de cavalheiros, regido por uma sólida ética e por um generoso fairplay, já acumulava uma história de centenas de anos.

No entanto, definir o período exato do surgimento das bases desse jogo é praticamente impossível. Na verdade, há apenas pesquisas um tanto superficiais que usam do recurso da aproximação por semelhanças para tentar adivinhar o momento da origem do jogo.

Nesse sentido, a referência mais antiga a algo que se pareça remotamente com o golfe está nos textos de Marcial, poeta do Império Romano no primeiro século da Era Cristã. Ele descreve uma prática muito popular entre os romanos, chamada paganica, no qual jogadores disputavam com bastões curvos uma bola de tamanho médio, feita de couro e penas.

Outro jogo citado pelos historiadores como um dos antecessores do golfe é a cambuca, jogado pelos ingleses séculos atrás. E hoje, quem for ao sul da Inglaterra e visitar a Catedral de Gloucester, poderá apreciar a representação desse jogo em um de seus belíssimos vitrais, datado provavelmente de 1340.

Desenho de 1615, por Hendrik Avercamp, retratando o kolv,  um dos jogos tidos como a origem do golfe

Desenho de 1615, por Hendrik Avercamp, retratando o kolv, um dos jogos tidos como a origem do golfe

A cena é a de um homem prestes a bater numa bola com um taco. E também há o choule, jogado no norte da França no século 13, e levado para Escócia e Inglaterra no século seguinte. No entanto, a única semelhança entre esses jogos e o golfe está no fato de usarem tacos para lançar uma bola rumo a um alvo. Mas a seguir essa lógica de que basta um taco e uma bola para se saber de onde veio o golfe, poderia se afirmar, então, que até um jogo como a cheuca, praticado pelos índios araucanos há centenas de anos no Chile, também tenha parentesco com o golfe. A já citada paganica, por exemplo, tem muito mais semelhança com o hockey, a ponto de também ser reinvidicada como uma das possíveis origens desse esporte sobre patins.

Dessa suposta dupla origem surgiu a antiga expressão “hockey in the halt”, hockey parado, como forma pejorativa de se referir ao golfe. De todas as histórias, a que mais contém elementos verossímeis é a referente ao jogo kolven, levado pela tripulação dos navios holandeses para a costa leste da Escócia no tempo do comércio das especiarias. Jogado originalmente no gelo, terminou por ser adaptado aos amplos terrenos arenosos e de vegetação baixa da Escócia, os famosos links, impróprios para a agricultura, mas excelentes para a diversão dos marinheiros que esperavam a hora de partir para suas próximas aventuras marítimas. O jogo consistia em usar tacos de madeira para embocar bolas de couro e pena de ganso em buracos.

Como no golfe atual, ganhava quem embocasse em menor número de tacadas. Os campos tinham entre 300 e 500 metros, e não mais que cinco buracos. Esta história soa melhor que a famosa lenda da origem do jogo: pastores de ovelhas escoceses divertiam-se batendo pequenas pedras aredondadas com seus cajados, e ao verem que uma pedra tinha entrado acidentalmente dentro de uma toca de lebres, teriam descoberto o golfe. No entanto, para embaralhar ainda mais, a China reinvidicou recentemente o título de inventora do jogo.

Os nobres chineses praticavam um esporte chamado chuiwan pelo menos desde o ano de 945, o qual teria sido levado ao ocidente por viajantes da Mongólia. Pinturas chinesas antigas mostram homens com tacos embocando bolas no chão, em cenas muito parecidas com o golfe atual. Seja como for, a partir do século 15 começam a aparecer datas e histórias mais confiáveis. Coube à Escócia a honra de ter o documento mais antigo no qual o golfe é citado. Trata-se de uma proibição que durou 45 anos, promulgada em 1457 pelo parlamento de Rei Jaime II, colocando o golfe na ilegalidade por conta do interesse de seus soldados pelo jogo.

Os guerreiros, sabiamente, preferiam dar tacadas e se divertir num campo de golfe em vez de treinar técnicas militares para depois se matarem num campo de batalha. Era o golfe, desde o início, já demonstrando sua natureza civilizatória. No século 17, o golfe ganhou impulso na região por conta da divulgação e incentivo de dois ilustres aficionados: o Rei Carlos I, da Inglaterra e a Rainha Mary, da Escócia. Em 1735 finalmente é fundado o primeiro campo de golfe de que se tem o notícia, o Edimburg Burgess Golfing Society.

Em 1744 surge a certidão de nascimento do golfe moderno: o documento com os famosos “13 Artigos” ou Articles and Laws in Playing the Golf, escritas pela Honorável Companhia dos Golfistas de Edimburgo, fundada no mesmo ano. No ano seguinte, mais precisamente no primeiro dia de abril, esta mesma organização realizou o primeiro campeonato oficial de golfe, numa partida de 5 buracos.

Já em 1755, vinte e dois cavalheiros e nobres fundaram a Sociedade de Golfistas de St. Andrews, depois chamada de Royal and Ancient Golf Club of St. Andrews, a qual incorporou os 13 artigos dos golfistas de Edimburgo, posteriormente ampliando-os. Até hoje, esta organização – através de seu braço R&A Rules Limited – é a autoridade máxima no mundo em termos de regras do golfe, tendo ao lado a United States Golf Association (USGA), autoridade reguladora das especificações técnicas dos equipamentos, tais como tacos e bolas. O golfe começou a ganhar o mundo a partir de 1880.

Instalou-se primeiro na Inglaterra, depois nos EUA, Canadá e em alguns países asiáticos. A partir de 1900, pode-se dizer que o golfe era conhecido praticamente em todo o planeta. Boa parte de sua dessiminação se deveu a ingleses e escoceses que desembarcavam em várias cidades do mundo e buscavam imediatamente um terreno no qual pudessem construir um campo de golfe.